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Um ano da calamidade: Samae faz investimento histórico visando a prevenção
Plano Canaliza Caxias com verba da autarquia terá investimento de R$ 80 milhões em 35 bairros para melhorar a infraestrutura de drenagem e saneamento
As gotas despretensiosas que começaram a cair no final da tarde de 26 de abril de 2024, uma sexta-feira, pareciam ser apenas mais uma típica chuva de outono, sem grandes consequências. Mas, em poucos dias, a precipitação deu lugar a um cenário de urgência e desespero. O que começou como um chuvisco acabou se tornando um pesadelo para muitas famílias de Caxias do Sul e de todo o Estado. Ruas ficaram alagadas, rios transbordaram e houve a necessidade de evacuar casas, tornando aquele final de semana o início do episódio climático mais devastador da história da cidade.
A
chuva incessante encharcou o solo e provocou um deslizamento de terra na tarde
do dia 1º de maio, o que afetou a adutora do Sistema Marrecas, na Rota do Sol
(RSC-453), interrompendo uma das principais vias de acesso da região. Equipes
do Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (Samae) e da Prefeitura de
Caxias do Sul trabalharam imediatamente para avaliar os danos. Nesse contexto,
os caminhões-pipa da autarquia passaram a suprir o abastecimento em pontos mais
críticos, evitando deixar a população desassistida.
Ainda
no mesmo dia, o prefeito Adiló Didomenico convocou uma reunião extraordinária.
Com a presença das forças de segurança e representantes das secretarias
municipais, a reunião teve um tom de preocupação crescente. O alerta laranja,
emitido pela Defesa Civil do RS, estava prestes a ser elevado para vermelho,
diante da previsão de que a chuva, que já acumulava mais de 300mm em algumas
áreas, continuaria intensa. Além disso, a Barragem São Miguel (integrante do
Complexo Dal Bó), no bairro Fátima, começava a gerar apreensão: o risco de
rompimento era real.
Na
tarde do dia 1º de maio, a comporta auxiliar da barragem foi aberta em 80%, uma
medida extrema, pois a abertura máxima histórica era de apenas 30%. A madrugada
de 2 de maio trouxe uma notícia ainda mais alarmante: a comporta foi totalmente
aberta, a 100%. A situação, que era crítica, levou ao acionamento de um alerta
às 4h da manhã, em conformidade com o Plano de Segurança da Barragem. Para
garantir a segurança dos moradores, foi preciso evacuar as casas nas áreas mais
próximas. Três dias depois as pessoas puderam retornar, quando o nível baixou
para um índice seguro.
O
diretor-presidente do Samae, João Uez, explica que a autarquia tem planos de
segurança para todas as barragens. “Neste início de ano, conseguimos prorrogar
a isenção do pagamento das contas de água para os moradores de Galópolis e Vila
Cristina, que ainda não puderam voltar para suas casas por conta dos danos
causados pelas chuvas do ano passado”, comenta. Ele também fala sobre o projeto
Canaliza Caxias, que representa um investimento histórico de R$ 80 milhões para
melhorar a infraestrutura de saneamento e drenagem da cidade. A aporte do Samae
será somado ao investimento de quase R$ 110 milhões da Prefeitura de Caxias do
Sul, planejado para os próximos anos com o objetivo de evitar que uma tragédia
como a de maio de 2024 se repita.
Apesar
dos problemas que marcaram o período, Caxias do Sul agora olha para o futuro
com um novo compromisso: o de reforçar a infraestrutura e investir em
prevenção. Até esta semana, 93% dos mais de 500 pontos críticos mapeados no
Município desde então foram recuperados com investimento de mais de R$ 20
milhões (recursos municipais, estaduais e federais). Algumas obras estão em andamento
e outras foram cadastradas, aguardando recursos do Palácio Piratini e de Brasília.
“A catástrofe que afetou tantas famílias e deixou cicatrizes profundas na
cidade também trouxe à tona a importância de cuidarmos do meio ambiente e de
estarmos preparados. A recuperação será longa, e com ela vem a esperança de
que, com planejamento e conscientização, a cidade possa se proteger melhor e
evitar novos danos”, projeta o diretor-presidente do Samae.
Confira
a seguir as ações encaminhadas pelo Samae durante a após maio do ano passado.
–
Canaliza Caxias: O Plano de Drenagem, Esgoto e Saneamento
é o maior pacote de obras da história do Município e contemplará 83 vias
urbanas com investimento aproximado de R$ 80 milhões, dinheiro do caixa próprio
do Samae. A parceria com a Prefeitura de Caxias do Sul reforça o trabalho contínuo
visando a prevenção.
–
Adutora Sistema Marrecas: na Rota do Sol (RSC-453), foi
implantada uma rede emergencial em maio de 2024. Provavelmente no próximo mês a
adutora será refeita num trecho de 500m com tubos de ferro fundido de 1000mm. A
nova adutora será paralela à emergencial, com investimento inicial do Samae
orçado em R$ 600 mil. Haverá aproveitamento de parte dos tubos e peças do
trecho desativado da adutora existente. Por se tratar de uma obra realizada
emergencialmente, o desvio foi concebido com diâmetro menor que a original, pelo
fato de a autarquia ter somente aquele material na época, tubos de 600mm de
diâmetro. Agora será reimplantado o diâmetro original. A adutora menor será
isolada e desativada, sendo os tubos reaproveitados para outros locais. Na
época, alguns bairros atendidos pelo Sistema Marrecas tiveram fornecimento de
água com caminhões-pipa; outros foram atendidos pelo Sistema Maestra. O conserto
durou 16 dias.
–
Barragem São Miguel do Complexo Dal Bó: O Samae tem uma empresa
terceirizada contratada que fez o Plano de Segurança das Barragens e faz a
inspeção regular, o que ocorre há mais de cinco anos. Durante o evento ocorrido
em maio de 2024, a utilização da comporta auxiliar da São Miguel foi de extrema
importância, assim como o Tanque de Detenção do bairro Interlagos, no que tange
o amortecimento da precipitação, bem como o controle do nível de água no lago
por um período de tempo significativo. Em complementação à utilização dessa
comporta, será construído um canal de coleta de água extravasada, de forma a
conduzir essas águas para o canal do vertedouro, conforme estudo técnico
contratado.
–
Represa Samuara: A Estação de Tratamento de Água foi
desativada, região abastecida desde o ano passado pelo Sistema Faxinal.
–
Galópolis e Vila Cristina: o Samae foi autorizado a prorrogar
de três meses para 10 meses a isenção do pagamento das contas mensais de água
pelos moradores de Galópolis e Vila Cristina que permanecem fora de suas
residências devido ao estado de calamidade pública decorrente do excesso de
chuva do ano passado.
Fotos:
Laura Piola/Samae